Anacoluto

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O que é anacoluto?

O anacoluto é uma figura de construção ou de sintaxe que ocorre quando a frase começa de um jeito, mas muda de direção no meio do caminho, deixando um termo inicial sem função sintática direta no restante do enunciado.

Em outras palavras, o início da frase parece “desconectado” do restante, como se fosse um pensamento lançado que não se encaixa formalmente na estrutura gramatical, mas que faz sentido no contexto.

Esse fenômeno é bastante comum na linguagem oral, pois na fala pensamos e articulamos ideias ao mesmo tempo, muitas vezes reformulando o enunciado enquanto ele é construído.

O resultado é uma frase que começa com um elemento e, de repente, toma outro rumo, abandonando a ligação direta com a primeira parte. É como se o falante começasse a caminhar por uma trilha e, no meio do percurso, decidisse pegar outro caminho.

Exemplos de anacoluto

Um exemplo simples é: “O João, ninguém sabe onde ele foi parar.” Nesse caso, “O João” inicia a frase, mas não se conecta sintaticamente com o restante, que forma uma oração independente.

Apesar dessa desconexão aparente, o sentido é claro: fala-se sobre João e informa-se que ninguém sabe onde ele está.

Outro exemplo: “Eu, essa receita eu não consigo fazer.” O pronome “eu” aparece solto no início, apenas como marca de quem fala, e não exerce função gramatical na oração que vem depois.

O anacoluto na literatura

O uso do anacoluto na escrita literária é frequentemente intencional, principalmente quando o autor deseja reproduzir a oralidade ou aproximar o texto da fala cotidiana.

Em romances e contos, ele pode aparecer nos diálogos para dar naturalidade à fala dos personagens, transmitir hesitação, surpresa, mudança de ideia ou até mesmo marcar um traço de personalidade.

Escritores como Guimarães Rosa, Clarice Lispector e Machado de Assis usaram com maestria esse recurso para criar narradores e vozes que soam reais, próximas do leitor.

O anacoluto no dia a dia

Mas o anacoluto não está presente apenas na literatura. Ele também aparece em discursos políticos, entrevistas, conversas informais e até na publicidade, quando a intenção é quebrar a linearidade do texto e capturar a atenção de quem ouve.

Ao desviar a estrutura da frase, o emissor pode criar uma pausa dramática, provocar expectativa ou destacar a informação que vem a seguir.

Apesar de suas possibilidades expressivas, o anacoluto deve ser usado com cuidado em textos formais, acadêmicos ou técnicos, onde a clareza e a objetividade são fundamentais.

Nessas situações, uma quebra na estrutura pode ser interpretada como erro de construção ou falta de revisão. Por isso, a escolha de empregar o anacoluto precisa considerar o contexto e o efeito desejado.

Como identificar o anacoluto?

Identificar o anacoluto exige atenção à estrutura da frase. Geralmente, ele se revela quando um termo inicial parece deslocado, não exercendo papel gramatical no restante do enunciado, mas ainda assim contribuindo para o sentido geral.

É como uma introdução isolada que prepara o terreno para a informação principal.

Concluindo…

Em resumo, o anacoluto é uma quebra intencional ou espontânea da sintaxe que traz à escrita a espontaneidade da fala.

Ele pode ser usado para criar proximidade, naturalidade e ênfase, sendo uma ferramenta valiosa para escritores que desejam explorar a musicalidade e a imprevisibilidade da linguagem.

Ao compreender como funciona e quando utilizá-lo, é possível transformar uma aparente falha gramatical em um recurso estilístico de grande força expressiva.

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